sexta-feira, 22 de abril de 2011

Há tempos


Sociedade. A palavra deriva do latim societas, “uma associação amistosa com os outros”, que por sua vez deriva da palavra socius, que significa “companheiro”.
Ana Cláudia Karen Lauer, estudante de enfermagem, foi agredida por três colegas de classe após apresentar denúncia à direção, de que seria vítima de bullying. Segundo a mãe de Ana Cláudia, Cláudia Lauer, a estudante está muito abalada. “Está com muita dor, não está conseguindo respirar por uma das narinas e está ouvindo a voz da menina (agressora) a todo momento”. Segundo o depoimento da vítima, duas alunas começaram a discutir com ela ao final da aula e uma terceira aluna a agrediu com um capacete de motociclista.
Ora, o artigo 5º da Constituição Federal no seu inciso III diz o seguinte: “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. O inciso protege a existência digna, alinhado com os tratados internacionais. A Lei nº 9.455/97 definiu os crimes de tortura. Trata-se de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, acarretando-lhe sofrimento físico ou mental. Sendo assim, as agressoras de Ana Cláudia deveriam ser indiciadas pelo crime de tortura, assim como outros infratores adeptos da prática do bullying.
Não há muito tempo atrás, éramos vítimas de uma ditadura repressora que partia do governo e que nos marcava como sociedade e seres humanos, pois tínhamos nossos direitos básicos tolhidos e fomos ameaçados e torturados por não compactuar com a barbárie que nos cercava. Infelizmente, o brasileiro se acostumou com as brincadeiras de mau gosto que são praticadas nas escolas e não menos frequentemente, no trabalho.
A brasileira Licia Faithful, funcionária de uma empresa de seguros na Inglaterra, ganhou uma indenização de 140 mil libras (cerca de 380 mil reais), por ter sido chamada de ‘Bob Esponja’ e zombada pelo seu sotaque, segundo informa o site Daily Mail. A justiça inglesa entendeu que ela sofreu discriminação racial.
Renato Russo já dizia que “há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade”. É valido fazer aqui um questionamento. Como surge nos jovens de hoje essa necessidade desenfreada de oprimir aos colegas? Creio que em grande parte a culpa seja do nosso formato praticista e lógico de enxergar a vida. A competição desmedida que vivemos no ambiente profissional e sentimental gera uma insegurança social que culmina na violência. O aluno de medicina que esfaqueou a colega de classe após ter sido rejeitado é um exemplo disso tudo. Não lhe parecia aceitável a idéia da resignação. Sucesso e realização profissional não lhe eram suficiente.
Na Inglaterra, a justiça fez valer os direitos individuais. Licia entrou em depressão profunda após ser submetida durante 18 meses ao abuso moral e ao bullying. Podemos esperar que no Brasil o judiciário adote medidas igualmente drásticas? Observemos que o Brasil é tradicionalmente um país que utiliza das artimanhas jurídicas para favorecer inúmeros atos infracionais. Contudo, há uma crescente tentativa de moralização dos nossos atos judiciais. Alcançaremos o ponto de equilíbrio que nos é devido pelo Estado de Direito?
Acompanhe o desenrolar do caso Ana Cláudia. O comportamento violento e opressor deve ser banido do nosso cotidiano. A Carta Magna nos assegura enquanto cidadãos brasileiros, basta que o judiciário faça valer nossas garantias. As forças do Estado e da justiça são proporcionais ao comprometimento da sociedade.



“Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira“...

Renato Russo

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