quinta-feira, 24 de março de 2011

Maior Abandonado

            
         O brasileiro é cordial. José Simão, do alto da sua sabedoria primata, nos presenteou com a verdade mais absoluta entre as mais absolutas verdades. O brasileiro é sim, cordial.
        A semana que passou tornou-se um marco na história moderna. A crise nuclear ocorrente no Japão e o início da intervenção militar na Líbia, por parte da França, Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Canadá, tomaram repercussão ímpar na mídia internacional. A decisão dos países aliados, que contou com o aval da ONU, causou calafrios naqueles que, supersticiosamente, creem na previsão Maia, que remete o fim dos tempos ao ano de 2012.
        Não é de hoje que se especula uma tragédia nuclear. A frustração do governo japonês em conter vazamentos de material radioativo proveniente dos reatores da usina de Fukushima Daiishi, trás à tona uma questão que outrora jazia em stand by: estamos preparados para lidar com uma energia potencialmente destrutiva como a nuclear?
        Não podemos descartar também, a possibilidade de um novo ataque cibernético, semelhante àqueles protagonizados pelo vírus Stuxnet, que ao demonstrar seu poder destrutivo nas centrífugas de enriquecimento de urânio, no Iraque, tornou-se a mais nova menina dos olhos dos aficionados tecnológicos. Análises feitas pelos engenheiros da empresa alemã Siemens, concluíram que o objetivo do Stuxnet não era mandar um aviso, como cogitado inicialmente, mas era, ao contrário, destruir o maior número de centrífugas sem ser detectado.
        Mas eis que no centro desse turbilhão no qual estamos vivendo, um homem aparece para tomar as atenções da mídia e consequentemente, da população brasileira. É Barack Obama, que veio ao Brasil trazendo consigo a esposa Michelle e suas duas filhas. Obama chegou com status de Rock Star. Pediram-lhe autógrafos, fotos, beijos, enfim. Mobilizaram o país, das forças armadas às escolas da Cidade de Deus. Houve festa entre a população. Todos perplexos diante de tamanha simpatia por parte do Super Man realizado. Vivas ao homem que vai girar a terra ao contrário.
        O complicado, o que enerva os cidadãos menos empolgados é a infantilização do povo brasileiro por parte dos estrangeiros. Ninguém se esquece da declaração do jogador francês Thierry Henry, que polemizou na mídia: “É difícil definir os jogadores do Brasil, pois eles já nascem com a bola nos pés. Por outro lado, quando eu era criança, precisava estudar das 7 às 17h. Pedia ao meu pai para jogar bola, e ele dizia que antes vinham os estudos. Já eles (brasileiros) jogam futebol das 8 às 18h”. Reclamamos da declaração no mínimo pertinente de um jogador de futebol, mas nos colocamos em situação de submissão perante um presidente, demonstrando assim todo nosso esclarecimento. Lutamos para que o Brasil se posicionasse de uma maneira diferenciada perante o cenário internacional, deixando de lado o estigma colonial que paira sobre nós. Reclamamos da mídia que expõe o país no exterior como paraíso da impunidade, mas não nos interessamos por nada que possa mudar essa imagem.
        Reclamamos mas não percebemos que nos colocamos nesta posição. A infantilização parte de nós mesmos. É frustrante ligar a televisão em meio à crise e assistir comentários acerca do vestuário da primeira dama estadunidense, veiculados por um programa que se intitula “fantástico”. É um atestado de imaturidade mobilizar centenas de soldados para assegurar a segurança do presidente americano à uma favela carioca. É triste ver homens adultos chorando por terem os filhos beijados por um mandatário de um país, que, diga-se de passagem, possui a política internacional caracterizada pela opressão frente aos países que não o favorecem.
        Os críticos dirão: qualquer estado deve tratar seus visitantes com respeito e cordialidade... Atenção, nobres conhecedores das relações interpessoais. Respeito e cordialidade são atitudes que devem ser tratadas com reciprocidade. Algum pai norte americano chorou ao ver o filho abraçado por Lula? Aliás, algum pai sequer permitiu que isso acontecesse?
        Apesar de atitudes como essas não ocorrerem pelos lados do Hemisfério setentrional, não podemos dizer que somos, ou fomos desrespeitados. Não há descaso da parte deles, mas sim excesso da nossa. Bajulação é uma atitude que demonstra inferioridade e isso em nada acrescenta prestígio à imagem do Brasil.
        Keep Watching.




        Raphael Mota

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